quarta-feira, abril 25, 2007

Cor para Presente







Sensibilizar

Quando me apresentei diante do rei,
o presenteei com uma cor, e disse:
-Essa cor é minha!
Ele fitou-me e sorriu:
-Obrigado!

Wesley Stutz 27/ 9/ 2006



Tentativa de sensibilizar: eis aí o objetivo da cor. Assim surgiu “Cor para Presente”, como uma tentativa de sensibilizar. Cor para Presente é pigmento em pó, encerrado num recipiente de vidro, posto numa caixa construída sob medida para esse vidro e entregue à pessoa escolhida.

O presente é um meio de tentar surpreender e agradar aquele a quem ele é dado. Surpreender porque é entregue embrulhado. Ou seja, qualquer que seja o presente, ele é embalado para que a pessoa que o recebe tenha a surpresa de descobri-lo sob o embrulho, o que também denota uma relação estética. Afinal, escolhemos a embalagem através de critérios de gosto. A embalagem não apenas tem o poder de atribuir valor ao seu conteúdo, como também, de despertar a curiosidade daquele que é presenteado. Ao descobrir o presente, então, esperamos que aquele que é presenteado se agrade do presente tanto quanto quem o deu. O presente, portanto, também denota uma relação estética. Quem presenteia, quando não escolhe o presente por princípios de gosto pessoal, escolhe na tentativa de que o presente atenda ao gosto do presenteado.

Embora o presente envolva questões estéticas, estas não são únicas. Quem presenteia o faz por graça àquele a quem dá, uma vez que o presenteado não o recebe por mérito; contudo, há também interesse da parte de quem presenteia, pois este ato favorece sua relação social com aquele que é presenteado. Portanto, presentear é também um fortalecedor das relações humanas.

De maneira geral, a escolha do presente insere-se no contexto da ocasião em que é dado. Para um casamento, escolhe-se algo que sirva aos noivos; para um nascimento, algo que sirva à mãe ou ao bebê; entre chefes de estado, algo que seja simbólico entre eles e os Estados que representam. Mas a Cor para Presente não tem o objetivo de servir ou simbolizar, com exceção talvez do primeiro. O que ela tem é a pretensão de surpreender, sensibilizar mais que agradar.

O primeiro Cor para Presente surgiu com esse intuito, embora estivesse inserido num contexto e contivesse uma relação simbólica entre mim e a pessoa presenteada, uma namorada. Neste trabalho foi feita uma caixa de papel Triplex 400grs. , branco, a fim de que mantivesse a neutralidade da caixa em relação à cor dentro dela, mas não menos bonita, e feita sob medida para três pequenos vidros com os quais eu mantinha uma relação estética. O primeiro vidro continha a cor amarela, o segundo, azul e o terceiro, verde. Entre o amarelo e o azul foi posto o sinal gráfico de adição, e, entre o azul e o verde o sinal de igual. No amarelo havia uma fita em volta do vidro com a palavra “EXPANSÃO”, no azul, a palavra “CONTRAÇÃO” e no verde, a palavra “EQUILíBRIO”. Ou seja, EXPANSÃO + CONTRAÇÃO = EQUILÍBRIO. AMARELO + AZUL = VERDE. Embora se tratasse de uma espécie de metáfora entre mim e a pessoa presenteada, uma namorada, o trabalho não excluía as questões de qualidades cromáticas. Ou seja, assim como Goethe fala em seu livro Doutrina das cores, o amarelo tende à expansão, o azul à contração; mas, ao se misturarem essas duas cores, criando o verde, suas qualidades visuais não se anulam; o verde, portanto, tende ao equilíbrio. O verde flutua.


Esse trabalho logo indicou a possibilidade de resposta eficaz que buscava para o uso da cor: oferecê-las às pessoas. E oferecer cor tem a ver com a tentativa de instigar a percepção para a beleza de uma cor isolada (por todo lugar em transitamos somos “bombardeados” por imagens coloridas, cores nas fachadas arquitetônicas sem, contudo, que haja harmonia visual; são as poucas exceções). Quer dizer, ao abrir uma caixa e encontrar apenas cor, tento despertar a percepção do presenteado para essa beleza visual. Essa questão ficou indicada nesse primeiro Cor para Presente.


Para o segundo, foram usados os mesmos princípios: caixa branca feita sob medida, um vidro idêntico aos usados no primeiro, mas nele, ao invés de sugerir um caminho para leitura, foi colocado somente um vidro com cor na caixa. A escolha da cor foi feita a partir de conversas com a pessoa escolhida, que me dizia gostar de violeta. Se no primeiro havia uma sugestão de mistura e o resultado dela, nesse segundo, mesmo por eu não ter pigmento violeta, foi feito uma mistura de azul e vermelho. Quer dizer, houve um envolvimento direto dessas cores para que chegassem à cor esperada. A mistura dos dois pigmentos, mais que simples mistura, é relação. A maneira com que a cor foi produzida para ser presenteada denota a pretensão do trabalho. Duas cores se aceitam para que haja harmonia e beleza, e não têm outra função senão a de ser beleza para sensibilizar.

A escolha dos vidros como estrutura que contém a cor, dá-se pelo próprio vidro que constitui uma forma estética particular e tende a valorizar o conteúdo para o qual foi designado. Talvez haja uma aproximação com o termo “Transobjeto”, cunhado por Hélio Oiticica para os Bólides-vidro. Oiticica diz que o uso das cubas de vidro,

ao transformá-las numa obra, não é a simples “lirificação” do objeto, ou situá-lo fora do cotidiano, mas incorporá-lo à uma idéia estética, fazê-lo parte da gênese da obra, tomando ele assim um caráter transcedental.


Aqui o vidro atua da mesma maneira. Ao abrir a caixa e ver o reflexo da luz sobre o vidro, o presenteado pode, não apenas ter a sensação de valor atribuído, como a de valor somado à qualidade da cor pigmentar ali contida (isso tem a ver com somar qualidade estética ao objeto). A caixa, como já foi dito anteriormente a respeito do embrulho do presente, soma valor e desperta o interesse em abri-la, por parte do presenteado. Há uma soma de fatores que intentam acentuar a relação estética entre presente e presenteado, para que seja particular, bela e agradável.

É possível, portanto, falar no reflexo resultante da ação de presentear com cor. Reflexo é reação, resposta. Dar uma cor como presente é querer provocar reações, sobretudo emocionais, sejam internas ou externas; mas que sejam sensíveis. Mas ainda é preciso encontrar meios para verificar essas respostas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Wesley,

Nunca tinha refletido tanto com relação ao significado de uma simples cor. O meu conhecimento das cores restringia-se ao seu aspecto frio, quente , pastel...

Por isso achei interessante a atribuição de valores ao embrulho de um presente ou à importância de uma primeira impressão. Tais fatores podem determinar uma futura apreensão e gosto concreto do real.

Acho importante também ressaltar que as cores, apesar de seu significado intrínseco, promovem reações díspares nas pessoas.

Enfim, achei muito legal o seu artigo... continue escrevendo e promovendo a reflexão...

Abraço,
Priscila

Anônimo disse...

Priscila, obrigado por suas observações. Esse tipo de resposta contribui para a forma como encaro esse trabalho e, dou continuidade a ele.