sábado, junho 16, 2007

Verde com sementes de flor para Gisele Morgão




Gi, sei que já te contei isso, mas te dou essa cor junto desse texto para que sirva de registro do que ela, a cor, e você representam para mim.

No ano passado, ao viajar para São Paulo, para ver a Bienal, vi uma flor muito bonita no quintal de uma casa, mas que não sei o nome e, que estava muito próxima ao portão. Tirei uma foto e vi que havia junto a flor algumas sementes que podiam ser retiradas com facilidade. Não lembrei de você. Pelo menos não no início. Lembrei-me que minha avó paterna gostava de plantar flores e pensei que talvez pudesse dar as sementes a ela para que pudesse fazê-lo. Ocorreu-me, contudo, que agora, com as mãos muito frágeis, ela não pode mais fazer sua jardinagem. Já não tem mais o vigor de algum tempo há trás e, sabe-se lá até quando ela vai poder ao menos poder apreciar as flores que tem no jardim. Dei-me conta de que ela um dia vai morrer. Parece que nós nunca esperamos que quem amamos vá morrer.

Foi então que me lembrei de você. Do seu Petroselinum Crispum. Pensei no quanto a semente fala dos ciclos vitais. Do quanto às sementes falam de nós mesmos, do nascer e do morrer, mas deixando sementes que ainda brotarão. Gi, me emocionei ao pensar no desdobramento do teu trabalho artístico, que me disse coisas ali, ao lembrar de minha avó.

Por isso te dou esse verde, com sementes colhidas dessa flor. A cor é presente para você, que me deu a chance de compreender que a vida não acaba. Cumpre ciclos. Quero de alguma forma, te devolver um pouco do que você me deu.

Obrigado. Wesley Stutz


Gisele Morgão é artista. Formou-se no mesmo curso que eu, o que me deu a oportunidade de ver seu trabalho poético desenvolver-se de perto. Seu avô um dia lhe deu algumas sementes de Petroselinum Crispum, ou, para quem preferir, Salsinha. Gisele guardou essas sementes como um verdadeiro tesouro. Mas seu avô morreu, o que a levou a pensar se guardar essas sementes era o melhor a fazer. Se era o melhor modo de preservar viva a memória do avô. Ela começou então, a plantar essas sementes. Algumas morreram, outras vingaram. “Esperava que ao plantar, nascesse um vô”, ela disse na apresentação do seu trabalho à banca que a avaliava (o trabalho foi apresentado para a conclusão do curso de Educação Artística da Universidade Estadual de Londrina). Ela continuou a plantar na esperança de que seu avô renascesse ali, de alguma das plantas que ela cultivou. Enquanto isso as sementes cresceram, morreram, deram novas sementes... elas cumprem seu ciclo.

3 comentários:

Anônimo disse...

O trabalho da Gisele é muito peculiar e extremamente sensível. Ele é capaz de nos tocar de alguma forma. São sementes regadas com esperança e saudade, e mesmo que não tragam um avô de volta, elas brotam dentro de nós e nos mostram uma nova maneira de se olhar as coisas.

Anônimo disse...

Wesley parabéns pelas declaraçoes de amor e arte que vc faz nesta vida. Continue....

Wesley Stutz disse...

Caro anônimo, obrigado pelo apoio e pela visita!!Espero também sensibilizar teus sentidos!!