quinta-feira, setembro 27, 2007

Paulo Briguet (Jornal de Londrina) sobre o Arquivo Íntimo, de Tatiana Portela

Artes visuais

Bom-dia, amigo, você
está sendo fotografado

Na Casa de Cultura da UEL, a exposição Arquivo íntimo, de Tatiana Portela reúne imagens de pessoas no momento em que acordam

Paulo Briguet
briguet@jornaldelondrina.com.br

Se o sono é o prenúncio da morte, como dizia Shakespeare, a hora de acordar traz uma pequena lembrança do nascimento. O despertar é o tema da exposição “Arquivo íntimo”, da artista plástica e fotógrafa Tatiana Portela, na Casa de Cultura da UEL.


A mostra reúne 120 fotografias de pessoas no momento em que estavam acordando. Para conseguir essas imagens, geralmente restritas ao âmbito particular de cada um, Tatiana contou com a ajuda de amigos e conhecidos. A artista os convidava para dormir na sua casa – e os fotografava pela manhã. O convite era feito por carta (as respostas podem ser lidas pelo público no próprio local da exposição).


Neste mundo (não apenas o da exposição), quem acorde de mau humor; de bom humor; com cabelo espetado; de ressaca; sem conseguir abrir o olho; com vontade de ir ao banheiro; com pena por ter interrompido um sonho bom; com alívio por livrar-se de um pesadelo; sem noção do tempo; bocejando muito; de cara amassada; de pijama; sem pijama; espreguiçando-se; com torcicolo; de supetão; aos poucos; cantando; com música; com rádio; com despertador; com telefone; com celular; sem despertador; com o galo; com os sinos. Há muitas formas de acordar – e Tatiana Portela resolveu mostrar algumas.

Na exposição “Arquivo íntimo”, há quem acorde alegre, triste, irritado, cansado, animado, feliz, meditativo, sorridente, deprimido, assustado, avoado. Ali se vê um casal de velhos, um casal de meia-idade, jovens de vários tipos, crianças e bebês. Tem gente conhecida e desconhecida. Alguns, é possível reconhecer: o arquiteto Zeca Repette, os artistas plásticos Danilo Villa e Elke Coelho e a própria Tatiana Portela, esta de pijama cor-de-rosa.

Lembrei-me de dois filmes: o documentário “Henry Miller dormindo e acordado”, que mostra o escritor americano depois dos 80 anos, em sua casa, a partir do momento em que ele acorda; e o filme “Desconstruindo Harry”, de Woody Allen, em que Robin Williams faz o papel de um ator que está “desfocado”. Um dos participantes da exposição é flagrado sem foco, sentado na cama. É assim que nos sentimos em certas manhãs.

As fotografias de Tatiana Portela não estão apenas expostas nas paredes da Casa de Cultura. A artista usou uma fotocopiadora para inserir as imagens em pequenos travesseiros, que também fazem parte da mostra. Nos travesseiros, há vestígios da individualidade de quem acorda: a data e o prenome. As imagens foram feitas entre 2005 e 2006.

Tatiana Portela é formada em artes visuais pela UEL e atualmente dá aulas de fotografia e pintura em escolas de Campinas e Vinhedo; ela também faz pós-graduação em artes visuais na Unicamp.

A exposição “Arquivo íntimo” vai até 6 de outubro, com entrada franca. Visitas monitoradas para escolas podem ser marcadas pelo fone 3322-6844.

Um comentário:

cristina.menegassi@hotmail.com disse...

Lendo o jornal no dia 28/09/2011 atentando a sua cronica,algo me chamou a atençao em relação ao homem que vc mencionou.Para te tranquilizar gostaria de dizer que conheço um de seus familiares.Ele tem familia,tinha problemas de alcoolismo com apenas 36 anos de idade.Por favor nao publique.